“Tipo, algumas ideias são porosas, enquanto outras são impermeáveis e não podem escapar à sua realidade. Talvez as melhores ideias sejam as que viajam livremente e não pertencem a ninguém.”
“- Ainda passo o tempo a pensar nisso – disse ela. – Em estar lá em cima. Toda a gente me diz que isto é muito mais importante. Eu teria sido a milionésima astronauta, mas vou ser a primeira crononauta. Então porque desejo estar antes além? […]
– Talvez porque já sabemos tudo sobre o sitio para onde vais – disse eu. – Não há nenhum mistério no passado. Resume-se apenas a como lá chegar. Não querias ir para o espaço para testar um foguetão. Querias ver coisas que nunca ninguém viu.”
Tom Barren vive no mundo perfeito. Uma descoberta cientifica em 1965 criou uma fonte de energia inesgotável a partir do movimento da terra e, a partir de então, não houve mais guerra, fome, e a tecnologia não parou de evoluir. Tem sintetizadores de alimentos, os abacates nunca estão pouco maduros e a única coisa com que têm de se preocupar é em como se entreter.
Mesmo assim Tom sente-se um falhado. Nunca fez nada útil na vida, sempre viveu sob a sombra do pai, o inventor das viagens no tempo. Por isso quando o pai decide que ele vai fazer parte do primeiro grupo a experimentar a sua máquina do tempo, Tom sente mais aquilo como um castigo do que como uma dádiva.
É então que conhece Penelope, a principal crononauta do grupo, e se apaixona por ela. Depois, Penelope morre.
O que faz um homem apaixonado com uma máquina do tempo quando a mulher que ama morre? Asneira, claro.
Tom volta então ao passado, que altera sem querer. Quando acorda de novo está num mundo completamente diferente e imperfeito. Os abacates não estão sempre maduros, os iogurtes azedam, há fome, guerra e a tecnologia não evoluiu para aquilo que ele conhecia. Tom acorda no nosso mundo.
Mas neste novo mundo a mulher que ama está viva, a mãe de Tom está viva e o pai é presente e carinhoso. Tem até uma irmã que nunca chegou a nascer no mundo de onde Tom veio! Tom, que agora se chama John, é ele próprio um homem muito mais bem-sucedido do que no seu mundo original.
O que fariam nesta situação? Tentavam restaurar o mundo original? Ou ficavam no novo mundo, muito mais imperfeito mas onde têm tudo aquilo que amam?
E se soubessem que a vossa acção condenou ao não-nascimento centenas de milhares de pessoas?
E se, ao tentarem restaurar a ordem das coisas, levassem o mundo ao Apocalipse?
Este é, primeiro que tudo, um livro muito alegre e divertido. A escrita é leve e fácil de ler, a história é leve e engraçada, sem perder o toque a ficção cientifica que promete. Neste livro, não há como odiar nenhuma personagem. Todas são caricatas à sua maneira, todas cometem os seus erros e sofrem as suas próprias perdas. É uma história que não nos aborrece, que nos agarra ligeiramente desde o inicio e que, quando começa a aproximar-se do fim, nos agarra tão fortemente que só a conseguimos largar quando acabamos.
Quem queremos que vença? Que mundo queremos que sobressaia?
Acredito sinceramente que não seria uma decisão unânime entre todos os que lêem este livro.
Livro muito recomendado!