Uma solidão demasiado ruidosa – Bohumil Hrabal

Livro Físico

Todos os dias, dez vezes ao dia, me pergunto, admirado, como pude afastar-me tanto de mim.
[HRABAL, 2019, p. 15]

Não queríamos mais nada senão viver assim para todo o sempre, como se já nos tivéssemos dito tudo, como se tivéssemos nascido juntos e nunca nos tivéssemos separado.
[HRABAL, 2019, p. 87]

via Jesus sempre entregue a um suave êxtase, enquanto Lao-Tsé, mergulhado em profunda melancolia, se apoiava com desdém e desinteresse no rebordo da cuba; via Jesus, firme na sua fé, dar ordens e mover a montanha, enquanto Lao-Tsé lançava uma rede de intangível intelecto sobre a minha cave; via Jesus como uma espiral optimista, e Lao-Tsé como um círculo sem saída, Jesus embrenhado em situações conflituosas e dramáticas, enquanto Lao-Tsé meditava silenciosamente na insolubilidade do problema moral das contradições.
[HRABAL, 2019, p. 54]

Bohumil Hrabal

Nascido a 28 de março de 1914 em Brun na República Checa e falecido a 3 de fevereiro de 1997, Bohumil Hrabal é considerado um dos maiores escritores checos da atualidade.

Em Uma solidão demasiado ruidosa o autor dá-nos a conhecer Hanta, um velho cujo trabalho é o de prensar e destruir livros e que, às escondidas, salva da sua própria prensa os livros que considera mais valiosos, como os de Kant, Hegel, Camus, Novalis e Lao-Tsé.

Tenho de dizer, antes de mais, que dificilmente se encontra um livro em que o titulo encaixe melhor do que este título neste livro. Toda a vida de Hanta é exactamente o que o título nos diz: uma solidão demasiado ruidosa. Hanta vive só, com a sua prensa, os seus livros, a bebida e as suas recordações e desejos. Ainda assim, está cercado de pessoas e de situações que tornam a sua vida num caos de ruído. Queremos ouvi-lo, e ouvimo-lo. Mas será que o ouvimos realmente?

Uma solidão demasiado ruidosa é um livro escrito quase como se fosse um monólogo. É um livro de uma escrita bela e poética, cheio de nuances e camadas, de muitas sensações e de muitas coisas escondidas nas entrelinhas. É também um livro que nos traz uma grande escuridão, que nos mostra um lado negro da humanidade e nos leva a visitar as catacumbas e os esgotos de Praga de uma maneira quase animalesca.

Livro recomendado. 4*

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