
Ando estrangeira dentro de mim própria. Não regresso, não consigo regressar à razão da minha consciência! Sinto a ânsia torturante de me despir desta matéria vil… de me libertar desta negra escravidão!
[TEIXEIRA, 2019, p. 63]
Não sei cantar os amores débeis. Adoro o Sol, amo a Cor, quero à Chama, bendigo a Força, exalta-me o Sangue, embriaga-me a Violência, deliro com a Luta, sonho com os gritos rebeldes do Mar!
Não me interessam as cores pálidas, não me comove a cor imaculada dos lírios brancos e flébeis. Eles não sofrem, eles não vibram, eles não clamam nenhuma estrofe de martírio ou de volúpia! É roxa a minha tristeza, negra a minha amargura, e a minha alegria enfeita-se de papoilas e enrubesce à luz do sol para cantar! […] Deitei fogo ao velho espantalho a que os fracos chamam «convenção» e a que os fortes chamam «limite»! E à chama desse estranho incêndio, ergui então bem alto esses novos motivos de beleza, desvendados ao meu espírito de ansiedade em hinos de Graça, de Amor, e de Vitória!
[TEIXEIRA, 2019, p. 92 e 93]

Judite dos Reis Ramos Teixeira, também conhecida como Judith Teixeira ou Lena de Valois nasceu a 25 de janeiro de 1880 em Viseu e faleceu a 17 de maio de 1959 em Lisboa. Publicou três livros de poesia e um livro de contos, e em 1925 lançou a revista Europa, de que saíram três números. Judith Teixeira foi alvo de polémica pelo tom homossexual e erótico dos seus escritos. Causou escândalo, morreu quase em anonimato e ainda hoje é uma escritora pouco conhecida da maioria das pessoas.
Em Satânia temos acesso a duas novelas desta autora, Satânia e Insaciada, e a uma conferência de Judith intitulada De Mim, onde a autora explicou o motivo dos seus escritos.
É um livro curto, para ler pausadamente, de uma escrita muito poética, erótica e romântica. É uma obra que prende o leitor mas de uma maneira um pouco diferente do habitual, um livro que nos faz mergulhar numa autora apaixonante e renegada, controversa e diferente.
Livro recomendado. 4*