
O Martelo das Feiticeiras, publicado em 1496 com o título Malleus Maleficarum, é um manual inquisitorial que explica a quem o lê como identificar, capturar, julgar e sentenciar quem pratica heresias. No entanto, o seu foco especial são as mulheres praticantes de bruxaria.
Em vários momentos ao longo desta leitura dei comigo com uma crença quase inabalável de que estava a ler um livro de ficção. Mas a verdade é que não. Malleus Maleficarum é um livro real, um manual real, que foi efectivamente usado e lido por inquisidores e posto em prática.

Comprei o livro em ebook pois não existe uma versão física do livro publicada em Portugal. E ainda bem. A verdade é que se tivesse o livro nas mãos, era bem capaz de o ter atirado contra a parede algumas vezes. Que horrível! Que absurdo!
A título de exemplo deixo-vos as razões pelas quais estes dois inquisitores que escrevem os livros consideravam que as mulheres são mais proprensas à prática de bruxaria: as mulheres são mais perversas, mais supersticiosas e crédulas; e mais impressionáveis e sujeitas aos espíritos desencarnados As mulheres têm uma língua traiçoeira, são mais fracas na mente e no corpo e o seu intelecto é como o das crianças. Mas acima de tudo, as mulheres são mais carnais do que os homens, e tendo sido Eva criada a partir de uma costela do peito de Adão, portanto uma costela curva, as mulheres são mais tortas e contrárias à retidão dos homens.
É impressionante as coisas que este livro diz acerca das mulheres e dos seus julgamentos e pecados. Pouco antes de explicarem as razões que falei anteriormente os autores dão exemplos de excertos da Biblia para elucidarem os leitores acerca das diferentes formas que elas têm de infernizarem a vida aos homens. E, depois, a parte dos julgamentos e sentenças…
É um livro que não têm a parte explicita tão cruel como eu pensava, mas que é ainda assim verdadeiramente chocante. Revoltante.
A edição que eu li traz uma introdução incrível de Rosa Marie Murardo que põe lado a lado o papel da mulher e a história da humanidade. Acho que nunca tinha lido um texto tão bom no que toca a explicar de onde surgiram o sexismo, o maxismo e o feminismo, e todas as questões de género anexas a isso.
Tem, também, uma bula do Papa Inocêncio VIII em que ele dá plenos direitos aos autores, James Sprenger e Heinrich Kramer, para que eles investiguem, capturem e sentenciem de qualquer maneira que queiram, em qualquer lugar e lhes dá inclusive autoridade total, superior à de qualquer bispo, nobre, princípe ou rei.
Um livro verdadeiramente chocante, horripilante, nauseabundo. Mas ainda assim um livro interessantissimo para quem quiser compreender esta parte da história.
Recomendado.