Lírica – Judith Teixeira

Livro Físico

Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
nos meus sonhos de prazer…

De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
pelo teu nome…

Dizem – e eu não protesto –
que seja qual for
o meu aspeto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!

Dizem que eu me embriago toda em cores
para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
quando vou passando para te ir buscar;
levo risos de louca, no olhar!

Não entendem dos meus amores contigo –
não entendem deste luar de beijos…
-Há quem lhe chame a tara perversa,
dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal –
o meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…

E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
o meu castelo em ruína…
Que fazes da má hora, a hora linda
dos meus sonhos voluptuosos –
Não faltes aos meus apelos dolorosos…
-Adormenta esta dor que me domina!

Judite dos Reis Ramos Teixeira, também conhecida como Judith Teixeira ou Lena de Valois nasceu a 25 de janeiro de 1880 em Viseu e faleceu a 17 de maio de 1959 em Lisboa. Publicou três livros de poesia e um livro de contos, e em 1925 lançou a revista Europa, de que saíram três números.

Judith Teixeira foi alvo de polémica, assim como António Botto, pelo tom homossexual de algumas das suas poesias. Causou escândalo, morreu quase em anonimato e ainda hoje é uma escritora pouco conhecida da maioria das pessoas.

Judith era uma mulher à frente do seu tempo, que teve a coragem de se assumir, de escrever sobre isso e que conseguiu, algo raro para uma mulher da época, tornar-se diretora de uma revista. A sua poesia é recheada de erotismo, de amor e de dor, uma poesia bonita e romântica, que conquista e fica na memória. E também, muitas vezes, uma poesia triste.

Breve reconhecimento para esta edição, que se percebe ter sido criada cuidadosamente e que tem excelentes notas e introduções para melhor compreendermos a autora.

Livro recomendado. 5*

1.
Abre sempre de mansinho,
as minhas cartas, amor…
no roxo do rosmaninho
vai oculta a minha dor

2.
As saudades que eu te envio
nas cartas que vou mandando,
são como as águas do rio,
já nascem tristes, chorando.

3.
As saudades que eu te envio
nas minhas cartas, meu Bem,
nascem sempre ao desafio –
mal uma vai, outra vem!

4.
Não me mandes mais saudades
nas cartas que me escreveres…
Já tenho tantas saudades!…
– Guarda as tuas, se puderes…

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