
“Depois de tantas horas de caminhar sem encontrar nem uma sombra de árvore, nem uma semente de árvore, nem uma raiz de nada, ouve-se o ladrar dos cães.
Às vezes chegamos a acreditar, no meio deste caminho sem margens, que depois não haverá mais nada; que não se poderá encontrar nada do outro lado, no fim desta planura rachada de gretas e de arroios secos. Mas sim, há algo. Há uma aldeia. Ouvem-se os cães a ladrar e sente-se no ar o cheiro de gente como se fosse uma esperança.”

Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcaíno nasceu a 16 de Maio de 1917 em San Gabriel no México e faleceu a 7 de Janeiro de 1986 na Cidade do México. Publicou apenas duas obras em vida: El llano en llamas em 1953 e Pedro Páramo em 1955. Pedro Páramo é um dos mais reconhecidos clássicos mexicanos.
Pedro Páramo foi um dos livros que mais me marcou nos últimos anos, uma daquelas obras que não me saem da cabeça independentemente do tempo que passa. Talvez por isso as minhas expectativas para com A Planície em Chamas estivessem realmente altas. Sendo um autor com tão pouca coisa publicada, eu tinha realmente esperança de que este fosse tão bom quanto Pedro Páramo.
A verdade é que não é. A Planície de Chamas é um livro de contos e um livro muito bom e impressionante. No entanto, ele é quase como uma sombra de Pedro Páramo.
Ao longo destas páginas vamos antevendo cenários parecidos aos de Pedro Páramo, uma prosa igualmente rica e boa de ler, que nos desperta sentimentos e sensações como se realmente estivéssemos lá. Não interessa que nunca tenhamos conhecido o Llano: A Planície em Chamas faz-nos acreditar que o conhecemos, que possivelmente vivemos lá toda a nossa vida. É um livro que se lê de rajada, apesar de ser rico em detalhes, sensações e pormenores que não o tornam uma leitura demasiado leve. E é também um livro com uma dose suficiente de dor, desgostos e sofrimentos que desde sempre constituem a condição humana.
Mas, e apesar de eu ter adorado esta leitura, não posso dizer que seja um livro excepcional, pura e simplesmente porque Pedro Páramo é um livro excepcional e este não é tão bom quanto ele. É um livro excelente, muito bom, uma leitura incrível, fora do vulgar e que está lá para nos fazer sentir. Mas não me marcou.
Livro muito recomendado. 4,5*