
“Os meninos tomaram café e foram a aula. Eles estão alegres porque hoje teve café. Só quem passa fome é que dá valor a comida.”
“O preto ficou quieto. Eu vim embora. Quando alguem nos insulta é só falar que é da favela e pronto. Nos deixa em paz. Percebi que nós da favela somos temido. Eu desafei o preto porque eu sabia que ele não ia vir. Eu não gosto de briga.”
Carolina Maria de Jesus foi escritora, compositora e poetisa, uma das primeiras escritoras negras do Brasil. Frequentou a escola por apenas dois anos, vindo mais tarde a tornar-se coletora de papel. Viveu em extrema pobreza, na favela do Canindé, em São Paulo.

Quarto de despejo é um diário escrito por Carolina Maria de Jesus enquanto viveu na favela. É um livro escrito de maneira muito simples, que mostra ao leitor a instrução simples da autora. E é também, claramente, um livro escrito com extrema honestidade. Provavelmente não passou pela cabela da autora, enquanto o escrevia, que ele pudesse alguma vez vir a ser publicado.
E é, ainda, um livro verdadeiramente impressionante. A pobreza em que aquela família vivia, o dia a dia na favela, a dificuldade em arranjar até mesmo dinheiro para comprar comida… são descrições que nos deixam a pensar. É um livro sem papas na língua mas escrito de uma maneira extremamente (e estranhamente) leve.
A primeira edição da obra contou com dez mil exemplares que esgotaram numa semana. A autora viria mais tarde a falar na repercussão que a publicação desta obra teve na sua vida: os vizinhos, habitantes da favela, consideraram a obra uma ofensa pois argumentavam que expunha as suas vidas pessoais. Carolina contava que começaram até a atirar para cima dela e dos filhos o conteúdo dos seus penicos.
Livro muito recomendado. 5*