As Raparigas de Papel – Louise O’Neill

Livro Físico

“Adorava as sextas-feiras quando era criança. Lembro-me de estar obcecada pelos livros ilustrados antigos que tínhamos no dormitório, que só podiamos ver aos fins-de-semana. Passei horas a construir planos detalhados para me certificar que lhes deitava mão antes das outras. Não que as outras os quisessem, preferiam os jogos interativos do ePad. Todas as sextas-feiras à noite, me esgueirava para uma das janelas tapadas do claustro, encostada a uma pintura de penhascs ou pirâmides, fingindo que as janelas estavam apenas fechadas e que podia olhar lá para fora se quisesse. Que o mundo lá fora ainda existia.”

Nesta distopia as mulheres deixaram de nascer naturalmente. Agora são criadas artificialmente e geneticamente modificadas para serem o mais atraentes possíveis para os homens. E para elas, existem apenas três futuros possíveis: o de companheiras, aquelas que se casarão com os homens para gerarem filhos homens; o de concubinas; e o de professoras. Neste mundo desigualitário e opressivo onde o que importa é a beleza, as raparigas tem de ser as melhores. Um livro originalmente publicado como As Filhas de Eva.

Este é um livro que nos fala de temas polémicos: a ditadura da beleza, a pressão pelos pares, a importância de nascer homem ou mulher. É uma leitura fácil e voraz, que nos toca pela proximidade que tem com o nosso mundo real. É praticamente uma metáfora aos nossos dias e quase podia acontecer.

Apesar de ser fácil de ler – demasiado fácil, talvez – é um livro que tem algumas partes mais pesadas, principalmente no início. Quando percebemos porque é que as mulheres deixaram de nascer naturalmente por exemplo, ou quando vemos as meninas aconselharem-se umas às outras sobre os seus defeitos, é difícil. Mas há muito mais de difícil nesta história.

Não me encheu totalmente as medidas, no sentido em que eu esperava uma leitura mais aprofundada. Queria saber mais sobre aquele mundo, como é que as pessoas chegaram ali, o que aconteceu com o meio ambiente. Queria saber o que acontece depois das evas sairem das escola, quais são os papéis e a vida de cada fracção. Algumas coisas poderiam ser tratadas e explicadas de outra maneira. O mundo que a autora construiu está lá e faz sentido, apaixona o leitor, mas é como se tocássemos apenas a superfície e faltasse algo. Deixa-nos com sede de mais. A determinada altura percebi que estava à várias páginas apenas a ler sobre maquilhagem, comprimidos e redes sociais e isso não chegava.

Livro recomendado. 3*

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s