“Era como se tocasse apenas com a ponta dos dedos nas franjas do sono”

Haruki Murakami nasceu a 12 de janeiro de 1949 em Quioto, no Japão. É um dos mais conceituados escritores japoneses da atualidade e os seus livros são um verdadeiro sucesso de vendas.
No conto Sono conhecemos uma mulher que tem uma vida perfeitamente comum: mãe de um rapaz, casada com um dentista, passa os seus dias entre as compras, os afazeres domésticos e meia hora na piscina do bairro. Até ao dia em que, pura e simplesmente, tem um pesadelo e deixa de dormir.
Ela já tinha tido um episódio de insónia antes, mas nada que se parecesse. Afinal, da primeira vez, a insónia levava a que o sono a atormentasse durante o dia. E ela dormia, pouco, mas dormia. Porém da segunda vez ela não dorme. E não tem sequer sono. E assim vive, durante 17 dias.
E ao não conseguir dormir ela decide aproveitar o seu tempo de outras maneiras. Admito que quase senti uma certa inveja da personagem por não precisar de dormir e poder dedicar-se tantas horas a algumas coisas… mas depois mudei de ideias.
Sono não é um conto linear sobre o qual possamos dar uma explicação que seja aceite por todos os leitores. É um conto aberto a diferentes interpretações e pontos de vista, com um final abrupto que deixa muita coisa em jogo e faz o leitor continuar a pensar nele. Marcante e estranho, diferente, surpreendente e, no limite, até um pouco agoniante. Mas é isso que leva a que um escritor se destaque: o efeito que os seus textos produzem no leitor, mesmo após terem terminado a leitura. E Murakami é um escritor pura e simplesmente brilhante.
Não acho que seja um conto para todos, facilmente compreensível ou que vá agradar ao público em geral. E tudo bem, porque também não é isso que se espera dele. Ainda assim é uma leitura agradável e que agarra.
Nota ainda para a edição da Casa das Letras, que é lindíssima.
Muito recomendado. 5*