Capitães da Areia – Jorge Amado

Livro Físico

“O que ele queria era felicidade, era alegria, era fugir de toda aquela miséria, de toda aquela desgraça que os cercava e os estrangulava. Havia, é verdade, a grande liberdade das ruas. Mas havia também o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas. Pirulito buscava isso no céu, nos quadros de santo, nas flores murchas que trazia para Nossa Senhora das Sete Dores, como um namorado romântico dos bairros chiques da cidade traz para aquela a quem ama com intenção de casamento. Mas o Sem-Pernas não compreendia que aquilo pudesse bastar. Ele queria uma coisa imediata, uma coisa que pusesse seu rosto sorridente e alegre, que o livrasse da necessidade de rir de todos e de rir de tudo. Que o livrasse também daquela angústia, daquela vontade de chorar que o tomava nas noite de inverno. Não queria o que tinha Pirulito, o rosto cheio de uma exaltação. Queria alegria, uma mão que o acarinhasse, alguém que com muito amor o fizesse esquecer o defeito físico […]”

Jorge Amado

Jorge Amado nasceu a 10 de agosto de 1912 em Itabuna, na Bahia e faleceu a 6 de agosto de 2001. É considerado um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. O romance Capitães da Areia foi censurado aquando da publicação e a maioria dos exemplares da primeira edição queimados em praça pública.

Nesta obra conhecemos um grupo de crianças sem casa nem família, que vagueiam pelas ruas da sua cidade e se sustentam com pequenos roubos e outras aldrabices. Temos, por exemplo, Pedro Bala, o chefe; Pirulito, o menino que quer ser padre mas precisa pecar para arranjar alimento; o Sem Pernas, o menino coxo que tudo o que queria era ter uma família; e muitos outros…

Eu sabia que ia ser uma leitura comovente, mas nunca pensei que fosse tanto. Capitães da Areia poe facilmente os leitores mais desavisados a chorar. Ler sobre aquelas crianças, perceber o que sentem e o que passam é algo de terrível. Depois, claro, esta é também uma história que nos traz uma curiosa dualidade bem-mal. Os capitães fazem muita, muita coisa má. Mas poderiam eles fazer diferente, tendo em conta as suas próprias condições? Provavelmente não.

A leitura é corrida, fácil. Mas a história é dura. Violência, violação, pederastia, abandono… há de tudo um pouco. E é também um livro que tem um fundo de verdade. Algumas personagens existiram mesmo, bem como o bando de crianças abandonadas.

Um livro verdadeiramente brilhante, de um autor que irei com toda a certeza voltar a ler.

Livro preferido! 5*

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