
” “Uma mulher que já não me pertence”, disse Alessandro e, numa sala onde todos os intervenientes eram mulheres (um espaço onde o termo «juiza» foi substituido por «juiz», eliminando-se cosmeticamente a marca de género), não houve uma que se insurgisse contra a noção de posse – «pertencer» -, contra o desprezo contido naquele «mulher». Talvez não tenham percebido o que ele disse. Teria Adriana sido julgada em português num tribunal italiano? Todo o processo assenta em distorções e não-ditos, e a barreira linguística acentuou os equívocos.”
(p. 130)

Tânia Ganho nasceu em Coimbra e foi lá que estudou tradução e onde viria a dar aulas. É tradutora e romancista.
Em Apneia conhecemos Adriana, o seu ex-marido Alessandro e o filho de ambos, Edoardo. Apesar de Adriana dizer quase no início do livro que Alessandro nunca lhe bateu a relação de ambos é claramente muito violenta, mas violenta de forma diferente: ameaçadora, aterradora, psicológica.
O livro, o peso da relação desta família (se é que lhe podemos chamar isso) foi ganhando força ao longo da história. No início pensei que era uma história de violência doméstica. Depois, percebi que não o era no sentido tradicional que se dá a “violência doméstica” e assumi que se tratava de violência psicológica. E então a história foi-se desenrolando e percebi que era algo muito, muito pior.
A leitura deste livro é avassaladora. Apesar de ter 692 páginas nem damos pelo seu tamanho, de tão rápido que se “devora”. E a leitura é fácil, tendo em conta a estrutura criada pela autora de capítulos curtos.
Mas não é fácil em nada mais. É um tema complicado, são aliás vários temas complicados. E o final, quando percebemos o que realmente se passa ali, é destruidor. Excelente, impecável, mas destruidor. Sem dúvida um livro difícil de esquecer!
Muito recomendado! 4*
Mas avisamos que o tema é pesado!