Diários de Viagem
Franz Kafka
«Quando começou a escrever os diários, em 1909, Kafka trabalhava numa companhia de seguros (licenciara-se em Direito, a contragosto, para satisfazer as expectativas familiares), vivia ainda com os pais e as três irmãs em Praga, mas recentemente passara a ter um quarto próprio, convivia regularmente com os amigos Felix Weltsch, Oskar Baum e Max Brod, com quem frequentava conferências e cafés, cinemas e bordéis, já começara a publicar textos em revistas e a ser conhecido como autor num círculo restrito. (…)
Nos catorze anos de que os diários dão registo, acompanhamos as inquietações obsessivamente elaboradas ao longo de uma vida: o conflito com o pai, ou a forma peculiar de violência que é a violência em família; o judaísmo; o corpo e a doença; a hesitação entre casamento e celibato, ambos temidos e desejados; a vida profissional como prisão. Acompanhamos (mais por omissão) a turbulência dos tempos, de que é exemplo a muito citada entrada de 2 de Agosto de 1914, no início da Primeira Guerra Mundial: “A Alemanha declarou guerra à Rússia. – À tarde, natação” (p. 332).
Mas praticamente não há elemento que não seja visto à luz da preocupação central de Kafka: a sua vocação de escritor, entendida como a forma de resistência ou de sobrevivência de alguém que, no seio da própria família, foi posto à margem do mundo e dos homens.» Da Nota Introdutória
Diário
Miguel Torga
O Diário de Torga, publicado originalmente em edição de autor, em 16 volumes, constituem o retrato de um homem, de um escritor e de um tempo. Publicados ininterruptamente entre 1941 e 1993, dão-nos uma apaixonante visão do país e da sociedade portuguesa da época, com todas as transformações que ao longo desse tempo a marcaram.
Cadernos de Lanzarote
José Saramago
«Este livro, que vida havendo e saúde não faltando terá continuação, é um diário.» Em 1994, tendo saído de Portugal após ter sido alvo de censura pelo governo de Cavaco Silva no episódio da candidatura de O evangelho segundo Jesus Cristo ao Prémio Europeu de Literatura, Saramago editava o primeiro dos seus polémicos Cadernos de Lanzarote. Uma amostra: «7 de agosto: Parabéns de Jorge Amado e Zélia pelos prémios. Que outros virão, ainda maiores, acrescentam, aludindo ao que consta ter sido dito por Torrente Ballester – que um destes dias me chega aí um telefonema de Estocolmo… Se esta gente acredita realmente no que diz, por que tenho eu tanta dificuldade em acreditar?» Entre palavras, lança ideias sobre o livro no qual trabalhava de momento: Ensaio sobre a cegueira.
Diário 1927-1941
Virginia Woolf
Sexta-feira, dia de Natal, 1931: «(…) Falei com o L. ontem à noite sobre a morte; a estupidez da morte; o que ele iria sentir se eu morresse. Ele abandonaria talvez a editora; mas disse que uma pessoa deve ser natural. E a sensação de velhice a invadir-nos: e o sofrimento de perder os amigos; e a minha antipatia pela geração mais nova; e depois raciocino que devo ser compreensiva. E agora estamos mais felizes.» Entre 1927 e 1941, Virginia Woolf viveu um dos seus períodos criativos mais fecundos e afirmou-se como uma das figuras de maior relevo dentro da sociedade literária londrina. Neste período foi um dos maiores expoentes de um conjunto de artistas e intelectuais empenhados na defesa da importância das artes e que ficou conhecido como o Grupo de Bloomsbury. São desta época algumas das suas obras mais marcantes, nomeadamente Rumo ao Farol (1927), Orlando (1928) e Um Quarto que Seja Seu (1929).
Neste diário, somos convidados a conhecer as suas reflexões mais íntimas sobre o mundo e sobre a Humanidade, com a singularidade e universalidade que muito poucos conseguem alcançar.
Diário
1941-1943
Etty Hillesum
Foi novamente como se a Vida, com todos os seus segredos, estivesse próxima de mim, como se eu a pudesse tocar… E ali sentia-me imensamente segura e protegida. E pensei: «Como isto é estranho. É guerra. Há campos de concentração. Pequenas crueldades amontoam-se por cima de pequenas crueldades. Quando caminho pelas ruas, sei que, em muitas das casas por onde passo, há ali um filho preso, e ali um pai refém, e ali têm de suportar a condenação à morte de um rapaz de dezoito anos.» E estas ruas e casas ficam perto da minha própria casa.
Sei do grande sofrimento humano que se vai acumulando, sei das perseguições e da opressão… Sei de tudo isso e continuo a enfrentar cada pedaço de realidade que se me impõe. E num momento inesperado, abandonada a mim própria — encontro-me de repente encostada ao peito nu da Vida e os braços dela são muito macios e envolvem-me, e nem sequer consigo descrever o bater do seu coração: tão fiel como se nunca mais findasse… [Etty Hillesum, Diário]
Diários
George Orwell
Os diários de George Orwell (1931-1949) dão a conhecer a vida do escritor que marcou o pensamento político do século XX. Escritos ao longo da sua carreira, os onze diários que sobreviveram – sabe-se que haverá outros dois da sua permanência em Espanha guardados nos arquivos da NKVD em Moscovo – registam as suas viagens de juventude entre os mineiros e os trabalhadores migrantes, a ascensão dos regimes totalitários, o horrível drama da Segunda Guerra Mundial, bem como os acontecimentos que inspiraram as suas obras-primas: O Triunfo dos Porcos / A Quinta dos Animais e 1984. As entradas de carácter pessoal reportam um dia-a-dia muitas vezes precário, a trágica morte da sua primeira mulher, e o declínio de Orwell, vítima de tuberculose.
Diário de Luto
Roland Barthes
No dia seguinte ao da morte da sua mãe, a 25 de Outubro de 1977, Roland Barthes começa um «Diário de Luto». Escreve a tinta, e por vezes a lápis, em fichas que ele próprio prepara a partir de folhas de papel A4 cortadas em quatro, e das quais mantém sempre uma reserva em cima da sua mesa de trabalho. Enquanto redige este Diário, Roland Barthes prepara o seu curso para o Collège de France sobre «O Neutro» (Fevereiro- Junho de 1978), escreve o texto da conferência intitulada «Longtemps je me suis couché de bonne heure» (Dezembro de 1978), publica um grande número de artigos em diferentes jornais e revistas, escreve A Câmara Clara entre Abril e Junho de 1979, redige algumas páginas do seu projecto «Vita Nova» durante o Verão de 1979, prepara o seu duplo curso para o Collège de France sobre «La Préparation du roman» (Dezembro de 1978 – Fevereiro de 1980). No princípio de cada uma destas obras maiores, todas elas explicitamente postas sob o signo da morte da mãe, encontram-se as fichas do «Diário de Luto».
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