“Foi algum tempo depois da Segunda Vaga ter começado que a cintura de Kaito começou a inchar, os pulsos e os tornozelos a engrossarem como rolos de carne, como se em oposição direta à nova exigência de alimentação mensal e às escalas nutricionais que estavam a aparecer nas mercearias. Era capaz de fazer grandes desvios para procurar as tascas de hamburgueres e os diners de galinha frita que estavam lentamente a fechar, uns atrás dos outros. Deixou de jogar ténis, e as grandes caminhadas que faziam anualmente tornaram-se uma coisa do passado.”
“Mas a ideia de viver para sempre era uma doença que ardia lentamente e que a mãe tinha apanhado a partir do momento em que tinham feito aqueles testes. Começou a viver como os americanos, deixando de comer carne e até mesmo peixe, a sua corpulência robusta diminuindo para uma magreza eficiente e controlada no ginásio. Parou de correr por causa do que isso lhe fazia aos joelhos. Finalmente, começou a cantar cada vez menos porque a avisaram sobre o coração, de como era o elo mais fraco numa composição genética imaculada. Havia também toda aquela produção excessiva de cortisol envolvida no facto de ser música. Riscos do ofício, como lhe chamavam.”

Rachel Heng nasceu em 1988 em Singapura, na Malásia. É romancista e contista, com diversos contos e textos curtos publicados em vários jornais.
Em Imortalidade Rachel apresenta-nos uma sociedade nova iorquina distópica onde a esperança média de vida ronda os 300 anos e o próximo passo é… a imortalidade. Quem serão os primeiros a conseguirem escapar da morte? No entanto, nem tudo são rosas… para conseguirem uma esperança média de vida tão extensa é reciso fazer sacrificios… a quantidade certa de exercicio, a comida certa, muitos tratamentos e controlos hormomais, por vezes até a substituição de algumas “peças”…
Será que é assim tão bom ser imortal?
Imortalidade é um livro que está muito bem escrito. A leitura é fácil e fluente e em menos de nada já se leu o livro todo. A realidade destas personagens, apesar de ser distópica, não parece assim tão distópica. A medicina sofreu um enorme avanço, mas apenas isso. Não dúvido de que, se tal acontecesse realmente, as pessoas iriam “endoidecer” pela imortalidade, tal como algumas das personagens desta história. É humano, simplesmente.
A ideia da imortalidade agoniou-me um pouco. Há uns anos atrás este era exatamente o meu género de livro preferido e sei que teria adorado lê-lo nessa altura. Agora, apesar de já não ser das minhas leituras predilectas, foi uma agradável leitura e uma agradável surpresa. Não se tornou num dos meus livros preferidos, mas valeu a pena. Os dilemas de Lea ao longo da história dão a este livro um interessante contexto psicológico e uma ou outra surpresa são boas a manter o interesse do leitor.
Recomendado. 3*