E chegámos ao último Resumo de Leituras de 2020! Fui só eu que senti que Dezembro foi um mês extremamente longo? Vim fazer o resumo de leituras e dei comigo admirada porque os primeiros livros parecem ter sido lidos há uns seis meses…
Bem, vamos lá a isto…
A Demanda do Graal – ed. Irene Freire Nunes
A Demanda do Santo Graal em que Irene Freire Nunes se baseou para a publicação desta obra é um manuscrito da Biblioteca Nacional de Viena, um pergaminho do séc. XV que é por sua vez cópia de um manuscrito anterior mas ainda não o original. Esta obra concentra-se na própria busca dos cavaleiros da Távola Redonda pelo Graal mas é também riquíssima em histórias paralelas. A história começa no reino de Logres, na corte de Artur, durante o dia de Pentecostes. De noite, no banquete, surge o Santo Graal. Após esta aparição, todos os cavaleiros ficam encantados com o Graal . Então Galvam faz a promessa perante o rei de no dia seguinte começar uma Demanda em busca do Santo Graal e mantê-la por um ano e um dia ou mais se preciso fôr. Os outros cavaleiros seguem-lhe o exemplo e fazem a mesma promessa. O Rei Artur fica zangado e triste com a atitude de Galvam e dos outros cavaleiros pois sabe que a Távola Redonda ficará vazia, que muitos morrerão na Demanda e que mesmo os que viverem demorarão muito a voltar, mas nada pode fazer para os impedir de partir. Foram em Demanda 150 cavaleiros. Ao longo da Demanda vamos conhecendo também muitas das suas histórias. Desses cavaleiros, três são puros, sem pecado: Galaaz, o filho de Lancelot recém tornado cavaleiro e destinado a encontrar o santo vaso, Persival e Boorz, que já cometera pecado mas que depois se corrigiu. São esses três que irão encontrar o Santo Graal. Um dos outros está destinado a cometer grandes pecados, ser desonrado e matar muitos dos seus companheiros se partir em demanda: Galvam, que é avisado da sua sina por uma misteriosa dama logo no início da história mas que parte mesmo assim. Para além desses cavaleiros temos também presentes Lancelot, Tristam, Blioberis e Lionel, Estor, Elaim o Branco, Gaariet, Agravaim, Mordret, Sagramor, Glifet e muitos outros. Ao longo da demanda muitos são os desafios. De armas em punho muitos vezes não se reconhecem devido à armadura e acabam por lutar uns com os outros. Depois, a sede de justiça por um amigo vencido fá-los enfrentar novamente outro dos cavaleiros. Outras vezes, enfrentam cavaleiros desconhecidos e perigos maiores, como demónios e a Besta Ladrador. Galaaz, o destinado, entra na história desarmado mas consegue uma espada ainda na corte do rei Artur e pouco depois consegue também um Escudo que nenhum outro cavaleiro antes dele conseguiu usar sem morrer. No fim da Demanda Galaaz encontra o Santo Graal e Joseph o filho de Joseph Abarimatia desce do céu e vem busca-lo por ordem de Deus. Assim morre Galaaz. A demanda é uma obra em forma de romance de cavalaria, que pretendia entreter mas também doutrinar. Nela podemos ver claramente, em vários aspectos, a ideologia da igreja. Galaaz por exemplo, é o cavaleiro perfeito: virgem, virtuoso, bondoso, belo, corajoso e leal que não morre como os outros mas antes sobe aos céus calmamente após ter cumprido o seu destino. Só ele e os puros como ele podem encontrar o Santo Graal. Já Lancelot, por outro lado, vive em pecado devido à sua paixão pela rainha Genevra e ao longo de todo o livro podemos ver o seu castigo: sonhos e visões que o relembram do seu pecado e o ameaçam com o inferno, a visão de Genevra a arder no inferno. A determinado momento ele tenta redimir-se do seu pecado e veste uma roupa áspera sob a armadura como penitência, mas no regresso a Camelot volta a pecar, é descoberto e despoleta uma guerra. Tive de ler esta obra por motivos escolares e, claro, este está longe de ser um livro em que se pegue num dia qualquer para ler só porque sim. Acho que é preciso haver algum interesse prévio pelo tema. A história em si tem 510 páginas, escritas em português antigo, divididas em mais de 700 capítulos. Mas eu, que nunca tinha lido nada da matéria da Bretanha, admito que adorei. É uma leitura bastante demorada e trabalhosa, mas que vale muito a pena. Ficamos a conhecer esta época de uma perspectiva totalmente diferente e vendo-a agora, passado tanto tempo, é uma análise bastante interessante. Para além disso, tenho um fascinio imenso pelas histórias da corte do Rei Artur e poder lê-las numa obra não contemporânea é uma verdadeira dádiva. Muito bom!
Baralhando Histórias – Gianni Rodari
Esta história é sobre o capuchinho amarelo. Não esperem, vermelho. Preto? Bem, é sobre aquela menina que encontra uma girafa na floresta quando está a caminho da casa da tia com um saco de batatas. Ou será bolinhos? Quê? A casa é da avó? O avô interrompeu a leitura do jornal para contar uma história À neta, mas ele não é lá muito bom a contar histórias. Mas no fundo, será que isso interessa mesmo? Um livro muito engraçado e muito bonito que os mais novos vão adorar. 5*, recomendado! Livro recomendado pelo plano nacional de leitura para crianças dos 3 aos 5 anos.
Eugénia Grandet – Honoré de Balzac
Em Eugénia Grandet conhecemos a história de Eugénia, que no início do livro é pouco mais que uma adolescente. Filha única de um casal de burgueses ricos, o pai de Eugénia é aquilo a que vulgarmente se chama um verdadeiro forreta. Em casa deles, tudo é contado e limitado, desde o pão servido a cada refeição aos cubos de açúcar disponiveis para cada um. É então que o tio de Eugénia, irmão do seu pai, um homem rico a viver em França, dá consigo na bancarrota e envia o seu único filho para casa deles para logo a seguir se suicidar com um tiro na cabeça. O forreta pai de Eugénia passa então a ter mais uma boca para alimentar, para além das dividas que o irmão lhe deixou por saldar. Entretanto, Eugénia e o seu primo acabam apaixonados e, antes dele partir para a Índia para tentar fazer fortuna, fazem promessas de amor eterno e ela jura esperar por ele. Eugénia Grandet não é, ao contrário do que pensei de início, uma história de amor. É uma história sobre dinheiro e avareza, sobre esperas e decepções. Admito que saiu completamente ao lado do que eu espera, mas acabou por ser uma leitura agradável. Ainda assim o fim não me satisfez, realmente gostava que tivesse sido diferente. É, claro, um produto do seu tempo. Livro recomendado, no geral. 3*
Vazio – Catarina Sobral
O Senhor Vazio era um homem como os outros. Ia às compras, andava pela rua, visitava museus e olhava a paisagem mas, ainda assim, continuava vazio. Por vezes uma certa obra de arte ou alguma ave conseguiam enchê-lo um pouco, mas depois, ele voltava a estar vazio. Era uma vida triste, a do Senhor Vazio. Até que um dia se cruza com alguém tão vazio quanto ele. Será que dois vazios se preenchem? Vazio, de Catarina Sobral, é uma história sem texto. É quem a “lê” ou a conta que a cria. É, também, uma história muito bonita sobre o amor, a esperança e o que dá cor à nossa vida. No fundo, todos temos dias em que nos sentimos como o Senhor Vazio e cada um de nós saberá o que realmente o preenche. Um livro maravilhosamente bonito. Recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 3º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada.
Mulheres da Minha Alma – Isabel Allende
Ao contrário das obras anteriores de Isabel, Mulheres da Minha Alma não é um romance. A autora define esta obra, dentro da própria obra, como uma “conversa informal” e de facto foi isso que eu senti ao longo de toda a leitura: que estava a ter uma conversa informal (e extremamente interessante) com a autora. Nesta obra fala-se de mulheres (e, de quando em vez, de homens). Fala-se do mundo em que vivemos hoje e do mundo em que vivemos ontem e fazem-se especulações para o futuro. É uma boa leitura para quem não acredita que ainda exista machismo e que as mulheres não tenham direitos iguais. Admito que adorei. Este livro transformou-se num dos meus preferidos de 2020. É uma leitura fluída e clara e, na experiência de Isabel conseguimos ver a experiência de muitas outras mulheres. É também uma chamada de atenção para tudo o que ainda falta fazer, para todos os passos que as mulheres ainda vão ter de dar para terem realmente os mesmos direitos e usufruirem da mesma segurança que os homens. Custa um bocadinho assimilar tantas injustiças como as que são faladas nesta obra, mas é este o mundo em que vivemos. E este é sem dúvida um livro inspirador. Muito, muito recomendado! 5*
Um Quarto que Seja Seu – Virginia Woolf
Em Um Quarto que Seja Seu Virginia Woolf discorre sobre literatura, sobre a profissão da escrita e sobre a forma como as mulheres, ao longo dos séculos, puderam ou não fazer parte dessa profissão. Segundo a autora, para conseguir escrever uma pessoa precisa de ter meios financeiros que lhe permitam estar descansada, ter “um quarto que seja seu” e onde possa escrever sem estar constantemente a ser alvo de interrupções. É um ensaio que nos fala da falta de autoras ao longo de muitos séculos e dos motivos porque não existiram essas autoras. Um Quarto Que Seja Seu é uma leitura curta e interessante sobre mulheres e a escrita da ficção. Se vale a pena? Vale, muito, com toda a certeza. É um livro que nos faz entrar no mundo da escrita e no mundo dificil de muitas autoras. É um livro que nos recorda que nem tudo se trata d resultado, mas do caminho percorrido para chegar a esse resultado. Recomendado! 5*
Que Coelhos Irritantes – Ciara Flood
O Urso gostava muito de viver sozinho. Tinha paz e sossego e isso sempre tinha funcionado até uma irritante familia de coelhos decidir ir viver para perto dele. E que chatos que eram, sempre a tentar fazer amizade! Até que…
Que Coelhos Irritantes! é uma história doce como o mel que promete conquistar leitores como os coelhos conquistaram o Urso. Bonito, doce, recomendado e com umas ilustrações muito boas!
A Pomba – Patrick Suskind
Em A Pomba conhecemos a história de Jonathan, um homem que vive sozinho uma vida monótona entre o banco em que trabalha e a mansarda em que habita, sozinho. Um dia a sua parada rotina é abalada ao encontrar, à sua porta, uma pomba ferida. A Pomba é um livro extremamente curto e rápido de ler. Fez-me lembrar em grande parte o romance O País do Medo de Isaac Rosa de que falei neste post, pois embora a história seja totalmente diferente as personagens são bastante parecidas. Ainda assim não me irritou, ao contrário de O País do Medo, que me deu ganas de matar a personagem. Valeu a pena? É uma leitura curta, pelo que não posso dizer que perdi muito tempo com ela. Mas está longe de ser o meu género de leitura preferido. Lê-se, sempre dá para distrair um pouco. Mas sem dúvida que não pretendo reler. Recomendadinho. 2*
O Estranho Mundo de Jack – Tim Burton
Jack Esquelético vive no país do Halloween, mas está cansado de viver naquele mundo negro e cheio de sustos. Um dia, por acaso, encontra a porta para o Natal e fica encantado. Decide então roubar o Natal e na noite da consoada prende a rena ao seu caixão e vai ele distribuir os presentes. Mas os seus presentes não são bem iguais aos do Pai Natal e as pessoas não parecem ficar muito contentes. Pelo menos quando começam a tentar atingi-lo com mísseis… O Estranho Mundo de Jack é um livro infantil sobre o Natal, escrito em verso, com um doce lado negro. É um livro para mostrar aos mais novos que cada um é especial à sua maneira e que não faz mal não ser bom em algumas coisas. E é também um livro encantador, com uma história diferente e interessante, que promete agarrar os pequenos leitores. Muito recomendado! 4*
Todos Devemos Ser Feministas
Chimamanda Ngozi Adichie
Chimamanda Ngozi Adichie nasceu a 15 de setembro de 1977 em Enugu, na Nigéria. Tem atraído as atenções nos últimos tempos pelas suas obras e por se declarar afincadamente feminista. Até onde me recordo, ainda não tinha lido nada de Chimamanda, mas fiquei totalmente fã dela com esta obra. É um livro curto onde ela fala um pouco sobre feminismo e sobre a forma como as mulheres ainda são vistas no mundo e em particular na Nigéria, o seu país. É curioso ver as coisas que ela conta que acontecem ainda em pleno século XXI. E mais curioso ainda a forma como ela descreve que os homens (e muitas mulheres) não percebem porque é que o feminismo ainda é necessário. No fim, o livro traz ainda um conto do livro A Coisa à Volta do Teu Pescoço, que entretanto passou para prioritário na minha Wishlist. Para além do conto ser maravilhoso a escrita da autora é muito aliciante. Um texto delicioso. Uma obra curta, que se lê em menos de um fôlego e muito, muito pertinente. Recomendado! 5*
A Mulher que Escreveu a Bíblia
Moacyr Scliar
Em A mulher que escreveu a bíblia conhecemos a história da mais feia das 700 mulheres do rei Salomão, que era também a única que sabia ler e escrever, através de uma terapia de regrassão às vidas passadas feita a uma mulher dos dias de hoje. Atenção que é um livro sem fundamentação história, não podendo portanto ser considerado um romance histórico. Trata-se, na verdade, de uma paródia. Agora, a minha opinião. Eu conheci este livro através da opinião do Miguel do blog nlivros e fiquei logo curiosa. Devo dizer que apesar de ter lido a opinião dele, foi um livro que me surpreendeu bastante. É uma leitura curta e rápida e soltei umas boas gargalhadas. Cumpriu o seu propósito. É evidente que não tem qualquer fundamentação história, pretende apenas fazer rir. E consegue. Também a parte da sexualidade feminina tem muito que se lhe diga. Vê-se claramente que quem está a falar sobre sexualidade feminina nesta obra é um homem, sem qualquer dúvida, e aí acho que falhou naquilo a que se propôs, mas tudo bem. Continua a ser um livro divertido, com uma história inesperada. Recomendado. 3,5*
Uma Mesa é uma Mesa. Será?
Isabel Minhós Martins
Uma mesa é uma mesa e nada mais do que isso. Ou pelo menos é isso que a Rosa acha. Mas será mesmo assim? Afinal, o que é uma mesa para um carpinteiro, para um ambientalista ou para um desportista? E para um sapateiro ou um empregado de mesa? Será que é só uma mesa? Uma mesa é uma mesa, mas pode ser muito mais que isso. Tudo depende do ponto de vista. Para o avô de Rosa uma mesa é um albúm de recordações. Este livro, mais um de Isabel Martins, é um livro magnifico como ela já nos habituou. Aqui relembra-nos que existe sempre um outro ponto de vista e que o que para nós é só uma mesa para outra pessoa pode ser muito mais. Os objectos, tal como as pessoas, têm a sua própria história. Muito bom! Recomendado, 4*
Alice entre as Gravuras
Gianni Rodari
Lá fora está a chover e não dá para ir brincar para o pátio. Então, aborrecida, Alice decide abrir um livro. Só que acontece um acidente e Alice cai dentro do livro. É então que começa a sua aventura, invandindo histórias de que não faz parte. Alice entre as gravuras é um livro divertido que promete agarrar os pequenos leitores. As ilustrações, apesar de não ser o meu género de ilustrações preferidas, têm pormenores muito engraçados e valem bem a pena por isso. Do mesmo autor de Baralhando Histórias. Recomendado! 3*
Desvio – Ana Pessoa
Em Desvio conhecemos Miguel, um adolescente que está sozinho em casa no verão. Os pais foram de férias, os amigos vê pouco e a relação com a namorada não está lá grande coisa. Mas será que Miguel está preocupado com isso? Desvio é uma novela gráfica para, diria eu, um público juvenil. É um livro sobre sentimentos e sobre solidão, sobre a vulgaridade do nosso dia a dia e a rotina. Tem ilustrações fantásticas e acho que todos nós nos conseguimos identificar com Miguel nesta obra. Todos já nos sentimos como ele neste livro. Um livro muito bom sobre algo muito comum. Recomendado! 4*
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