“As ruas tresandavam a lixo, os saguões tresandavam a urina, as escadas das casas tresandavam a madeira bolorenta e a caganitas de rato e as cozinhas a couve podre e a gordura de carneiro; as divisões mal arejadas tresandavam a mofo, os quartos de dormir tresandavam a reposteiros gordurosos, a colchas bafientas e ao cheiro acre dos bacios. As chaminés cuspiam fedor a enxofre, as fábricas de curtumes cuspiam o fedor dos seus banhos corrosivos e os matadouros o fedor a sangue coalhado. As pessoas tresandavam a suor e a roupa por lavar; as bocas tresandavam a dentes podres, os estômagos tresandavam a cebola e os corpos, ao perderem a juventude, tresandavam a queijo rançoso, leite azedo e tumores em evolução. Os rios tresandavam, as praças tresandavam, as igrejas tresandavam e o mesmo acontecia debaixo das pontes e nos palácios. O camponês cheirava tão mal como o padre, o operário como a mulher do mestre artesão, a nobreza tresandava em todas as suas camadas, o próprio rei cheirava tão mal como um animal selvagem e a rainha como uma cabra velha, quer de Verão quer de Inverno.”
Jean-Baptiste Grenouille nasce no séc. XVIII, numa época em que tudo cheirava mal: as pessoas, as ruas, as cidades…
No entanto, Jean-Baptiste nasce sem cheiro e com um dom inato para a arte dos cheiros. Em criança, os outros temiam-no: não conseguiam cheirá-lo. Em adulto, Jean-Baptiste transformou-se num perfumista.
Mas Jean-Baptiste tem um sonho: conseguir produzir o perfume supremo, o melhor de todos os perfumes, o único. Não importa o que tenha de fazer para tê-lo, ele vai tê-lo.
É então que Jean-Baptiste começa com os seus hediondos crimes. Afinal, como obter o melhor perfume? De onde vem a melhor de todas as essências? Do corpo das mulheres.
Este livro é de 1985. O filme de 2006. No entanto é uma história que nunca passa.
Jean-Baptiste é uma personagem peculiar, arrepiante, capaz de tudo. A leitura é fácil e realista, quase conseguimos sentir os cheiros que o livro nos traz. E o livro é bem cheio de cheiros!
Da primeira à última página, da primeira à última palavra, há cheiros por todo o lado.
Este não é um livro de terror ou de suspense ou mesmo um policial no sentido em que conhecemos hoje estes termos. Mas é um livro arrepiante, uma história inesperada e interessante do inicio ao fim. Alguns, poucos, defendem que Jean-Baptiste foi uma pessoa real, cujos registos se perderam há muito. Se o foi ou não não sei. Mas mesmo sendo apenas a personagem fictícia, consegue deixar-nos com os cabelos da nuca em pé.
A apontar apenas o final da história, que para mim ficou a faltar alguma coisa. Mesmo assim, este é um daqueles livros que não sai da minha biblioteca!
Livro muito recomendado!
Adorei o Perfume e recomendo também o filme que está muito bom.
Sabias que o livro é uma Alegoria à Revolução Francesa que fazem desta obra algo de simplesmente genial?
Lê a minha opinião: http://nlivros.blogspot.pt/2008/02/perfume-o-patrick-suskind.html
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