Intimidade – Hanif Kureishi

Livro Físico

Esta noite, a minha emoção predominante é o medo do futuro. Sempre é melhor, por assim dizer, ter medo das coisas do que estar entediado com elas, e a vida sem amor é um longo tédio. Posso ter medo, mas não sou cínico. Estou a tentar ser determinado. Podem ter a certeza de que esta noite deixarei as coisas bem escuras. Também devia pensar sobre o que gosto na vida e nas outras pessoas. Caso contrário, vou transformar o futuro num deserto, eliminando as possibilidades antes mesmo de qualquer coisa acontecer. É fácil matarmo-nos sem morrermos.

Sento-me à frente dela com a agenda, passando as páginas. A partir de hoje, as páginas estão em branco. Deixei espaço para o resto da minha vida.

Hanif Kureishi nasceu a 5 de dezembro de 1954 no Reino Unido. É dramaturgo, roteirista, cineasta e romancista e em 2008, o jornal The Times incluiu Kureishi na sua lista dos “50 maiores escritores britânicos desde 1945”.

Em Intimidade o autor dá-nos a conhecer os pensamentos e sentimentos de Jay, um homem que após 10 anos de casamento decide separar-se. Ao longo do livro vemo-lo recordar o passado, viver o presente e sentir o medo e o apelo pela mudança e pelo futuro. No entanto, a decisão não é fácil, Jay vai ter de abandonar não só a mulher com quem viveu parte da sua vida mas também os dois filhos pequenos, de três e cinco anos.

É curioso como ao longo do livro conseguimos perceber os sentimentos contraditórios em Jay. Por um lado, a ânsia pela mudança e pela liberdade, o saber que o seu casamento chegou ao fim e que já não ama aquela pessoa. Por outro as expectativas da mulher e da sociedade para que lute pelo casamento e o sentimento de estar a abandonar uma vida segura, um casamento e os próprios filhos. É um livro que não tem uma história por aí além, mas que é enorme em termos de conteúdo psicológico. Tem com toda a certeza imenso para debater neste aspecto.

Não considero que a forma como Jay faz as coisas esteja correcta, pois não o faz “às claras”. Em simultâneo, parece-me curioso – não no bom sentido – o quanto ele é tido como “aquele que abandona” quando na verdade o que ele faz é simplesmente separar-se para procurar a sua própria felicidade. Um livro que tem dois lados, que nos apresenta questões em que provavelmente não pensamos muito e que nos faz questionar. Afinal, somos felizes? O que nos faz felizes? E o que é mais importante: sermos felizes ou não magoar os outros?

Recomendado. 4*

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