Todas as noites, elas se amam sem descanso, sem medo. Seus corpos, depois de anos de inexistência, se estendem e se expandem. Elas vibram junto, num uníssono que as leva até ao limite de si mesmas, num lugar tão profundo onde se perdem a cada noite e incessantemente se encontram. Poucas palavras entre elas. Victoire é a mais faladora. Sua ascendência social lhe dá essa liberdade. Céleste não reza mais, deixa Deus de lado. Vive numa euforia permanente, apesar das poucas horas de sono, apesar dos dias extenuantes, atravessa o tempo correndo nas pontas dos pés, a mente preocupada apenas com o que ela às vezes chama de “minha Victoire”. Sua bela Victoire.
No interior de França em 1908, Victoire é esposa de Anselme. Um casal comum, que não é apaixonado, extremamente feliz nem assustadoramente infeliz. No entanto, há um desgosto que paira no coração dos dois: a falta de um filho. Anselme acaba por engravidar a empregada de ambos, Céleste, contra a vontade desta. A criança virá a ser criada com filha de Anselme e Victoire mas o seu nascimento faz algo que ninguém esperaria e leva a uma aproximação entre Victoire e Céleste que as faz descobrir o verdadeiro amor.
Amores é um livro que se passa quase exclusivamente à porta fechada, dentro da casa de Anselme e Victoire. É um livro de época, que nos mostra bem a sociedade de então e as suas barreiras e preconceitos. E é um livro simultaneamente revoltante e enternecedor, que nos dá um aperto no peito pela situação em que determinadas personagens se encontram, pela sua falta de opções e pelas consequências a que isso as leva.
É, também, um livro repleto de camadas. Em poucas palavras a autora consegue mostrar-nos cada uma das suas personagens em todas as suas dimensões. São personagens profundas, que poderiam facilmente ser reais, que poderiam perfeitamente ser cada uma delas uma outra história.
O final é comovente e algo que eu demorarei certamente bastante a superar.
Recomendado. 4*
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