Sonho da Aldeia Ding – Yan Lianke

Livro Físico

O silêncio é intenso. Todavia, nessa mesma ausência de vozes ou de som, a Aldeia Ding continua viva. Sufocada pela morte, recusa-se a morrer. Nas sombras mudas do outono, a aldeia mirrou a par da sua gente. As pessoas minguam e definham juntamente com os dias, como cadáveres enterrados debaixo da terra.

Aí, parado na beira da estrada que ligava a Aldeia Ding ao resto do mundo, ganhou consciência de uma realidade.A constatação de que as nuvens são um prenúncio de chuva. Que o final do outono gera o frio do inverno. Que os que tinham vendido o sangue há dez anos agora teriam a febre. E que os que tinham a febre iriam morrer, tão certo como a queda das folhas.

A Aldeia Ding era uma aldeia pobre, tão pobre que nem tinha casas de tijolo. Até aparecerem os negociantes de sangue. As pessoas começam então a vender o seu próprio sangue e a sua vida melhora. Mas dez anos depois, chega a febre, o HIV que foi transmitido de uma pessoa para outra e para outra pelas agulhas contaminadas e usadas vezes sem conta. O que fazer quando nada se pode fazer?

Sonho da Aldeia Ding, escrito por Yan Lianke e publicado pela primeira vez em 2010, foi proibido na China por falar de temas sensiveis relativos ao desenvolvimento do país, nomeadamente os vendedores de sangue. É um livro pesado, não pela escrita mas pelo tema que trata. Faz-nos pensar, deixa-nos com um aperto no peito e uma tristeza profunda.

Acabamos enredados naquelas teias de personagens e é fascinante ver a forma brilhante como o autor consegue mostrar as diferentes versões das mesmas histórias. Nesta obra, ninguém é totalmente bom ou totalmente mau e todas as personagens estão a reagir, à sua própria maneira, a uma situação extremamente dificil. É uma obra escrita com muita maestria, que merece muito mais reconhecimento do que, devo dizer, tem tido.

Fascinante. Possivelmente um dos melhores do ano.
5*, recomendado

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